Ora, como eu disse, um dos projetos de Lindemann era o de ir para a comunidade e tentar identificar as pessoas que fossem potencialmente vulneráveis a perturbações maiores face às dificuldades, não, necessariamente, perda de pessoa amada, mas também outros tipos de problemas, para que elas pudessem ser integradas num sistema de apoio, de forma que se pudesse fazer alguma coisa antes que a dificuldade ou crise emocional se cristalizasse numa perturbação mental mais grave, que requeresse um atendimento muito mais longo ou mais intenso para ser superado. Assim, Lindemann estabeleceu um protótipo de agência de saúde mental, na cidade da Wellesley, em Massachusetts, onde hoje existe o Wellesley College. Essa agência foi estabelecida, especialmente, para ficar disponível, gratuitamente, para qualquer pessoa que viesse em busca de auxílio. O caso, no entanto, é que as pessoas não apareciam nessa agência, não que não houvesse pessoas necessitadas, mas por causa do estigma, em geral, ligado aos assuntos de atendimentos psiquiátricos.
No entanto, Lindemann não desistiu por causa dessa dificuldade. Ele imaginou que numa cidade de 80.000 habitantes, como Wellesley, certamente haveria muitas pessoas com problemas. Essas pessoas em dificuldades, de certo, estariam falando com algumas outras pessoas, a quem Lindemann chamou de "caretakers" - "provedoras de cuidados". Podia-se, então, descobrir quem eram essas pessoas, os provedores de cuidados. Provavelmente, seriam professores, quando estivessem envolvidas dificuldades escolares, pessoas do Clero, quando no tocante a problemas de morte, advogados, a respeito de disputas legais, e assim por diante. Então, Lindemann estabeleceu reuniões com essas pessoas provedoras de cuidados, caratakers. E a partir desses caretakers, as pessoas necessitadas passaram a ser referidas às agências Comunitárias de Saúde Mental, e a partir delas, se necessário, quando fosse o caso, a outras instituições. Esse foi o primeiro exemplo, o protótipo, de uma agência da saúde mental comunitária.

Bem, se posso me tornar um pouco imodesto, diria que trabalhei com o Dr. Lindemann, como "fellow" na Escola de Saúde Pública de Wellesley, e lá tive a oportunidade de ver muitas mães, que tinham problemas com seus filhos, quando o comportamento ou o rendimento da criança na escola estivessem abaixo do desejado, e o professor observava isso, e então comunicava para a mãe, e a mãe vinha para a nossa agência de saúde mental. Aí, tive a oportunidade de atender muitas dessas mulheres, falando com elas de um assunto específico, o foco da nossa intervenção, que era o problema com seus filhos na escola. E fiquei muito impressionado com o fato de que muitas dessas mães realizaram uma tarefa muito boa, se sentiram muito bem em curto período de tempo. Essas mães não eram pacientes, que tivessem sido vistas em uma clínica ou em um hospital de doentes mentais, e não tinham a etiqueta de pessoas com problemas de saúde mental, ainda que, de certa maneira, elas tivessem um problema, que era o problema de seu filho na escola, quer dizer, um problema psicológico numa área específica de seu funcionamento, e no resto elas funcionavam bastante bem.