Entretanto, em 1956, veio um paciente com um quadro bem estabelecido de fobia a qualquer tipo de transporte público, ele não podia andar em ônibus, trem ou qualquer outra coisa. Isso era naquela época antes da existência das técnicas de tratamento comportamental das fobias e quando também não existia medicação mais efetiva para isso. Então, o paciente foi examinado e, segundo o modelo clássico, foi-lhe dito que necessitava de uma psicoterapia, uma ou duas vezes por semana, por um par de anos.

Ele, porém, discordou, que não, que não podia ser, que ele queria casar e que, precisamente, seus planos de casar-se é que tinham precipitado toda a fobia. Alguém lhe disse: "Bem, mas esse é o tratamento que o Ambulatório oferece aos pacientes". Aconteceu que ele, então, veio falar comigo, dizendo: "Olhe, tenho a impressão de que funciono bastante bem, mas preciso de algum auxílio, e quero me casar dentro de uns três meses". Respondi que lamentava, mas que o tratamento teria que ser o que a equipe de admissão tinha recomendado, duas vezes por semana, durante dois ou três anos. E ele disse: "Então, porque você não me trata em poucas sessões?". "Como, eu tratá-lo?". Enfim, naquele tempo também eu tinha sido submetido a certa lavagem cerebral, mas, por outro lado, eu havia tido aquela experiência com as mães das crianças escolares e achei que se podia dar a ele uma oportunidade. Naturalmente, contei-lhe que as chances não eram muito grandes, mas que, veríamos o que se podia fazer em três meses. Bem, o que aconteceu é que, depois de sete ou oito consultas, ele melhorou bastante e duas semanas antes do casamento estava bastante bem. Então, me senti encorajado em dizer: Olhe, quando você voltar da sua lua de mel, por favor, venha nos dar notícias na nossa reunião de avaliação. Claro, eu imaginava que podia ser o que chamamos de uma "melhora ou cura de transferência", mas eu estava curioso.

Bem, o caso é que ele veio, depois de algumas semanas, e me disse que continuava muito bem, que tinha ido à Nova York, as pessoas iam à Nova York, naquele tempo, para sua lua de mel. E contou que passara quase todo o tempo indo e vindo de um lado para outro, para cima e para baixo da cidade, naqueles trens expressos. E, ele disse: "Olhe, não sentia nada". "Ah" - perguntei -"quem sabe você vem a uma das nossas reuniões gerais, gostaria de apresentá-lo como o caso de alguém que foi ajudado em um curto período de tempo", e ele veio.
Nessa reunião, relatei, essencialmente, o que transmiti agora para vocês, de que nós pensávamos que estávamos ali com uma experiência terapêutica proveitosa, uma pessoa que noutra ocasião deveria ser tratada uma ou duas vezes por semana durante dois anos. Claro, eu estava bastante satisfeito, mas vi que muitos membros da audiência estavam franzindo suas testas. E muitos deles eram meus Professores na Sociedade Psicanalítica de Boston, onde eu era um candidato em treinamento. Isso não era muito agradável e, mais ainda, depois que o paciente saiu, um levantou e disse: "O que se tem aqui é uma cura transferencial, que não é boa para o paciente". "Não, comentou outro, trata-se de uma fuga para a saúde, o que também não é bom". "A aparência agora é boa," - ajuntou alguém - "mas vamos esperar e vê-lo dentro de um ou dois anos, para saber o que aconteceu."

Embora não houvesse muitos recursos, tentamos trazê-lo de novo, e ele veio. E o que vimos é que os sintomas haviam melhorado de certa maneira, mas o que era muito mais chamativo para nós, era sua declaração a respeito da autoestima. Ele se sentia muito melhor, e as suas relações com as pessoas importantes no seu ambiente haviam melhorado consideravelmente. E isso é o que víamos também com outros pacientes, e eles diziam que haviam aprendido muita coisa a respeito de si mesmos. Bem, nessa época, pensávamos que o assunto do aprendizado não era de muita importância, pois aprendizado tinha a ver com a perspectiva comportamental, os aspectos intelectuais do comportamento. Como vocês sabem, eu fizera treinamento na Sociedade Psicanalítica de Boston, onde nada disso se falava.