Numa destas tardes agora no fim do ano, estando num Shopping e me sentindo mais animada, comecei a recordar fatos e acontecimentos do meu passado, deste ano que termina e também de outros.

Lembrei-me de muitas coisas boas passadas, de horas felizes. Lembrei também episódios não tão bons, tardes não aproveitadas, tempo desperdiçado em preocupações tolas, fatos inúteis, vazios, medíocres ou sem nenhum sentido para a vida.

Sentei à mesa de um café e fiquei ali várias horas, só eu comigo mesma.

Nesse meu devaneio fiquei pensando como é que acontece. A gente vai vivendo a vida, vivendo, até que um dia “acorda” e o perigo é que talvez já seja tarde, não haja mais tempo para realizar nem a metade dos sonhos que sonhou e dos projetos que a gente fez!

Aí pensei: este ano que está acabando em parte até nem existiu! Em parte, vi e deixei o tempo passar e realizei pouco, vivi pouco. Foi uma fração de vida em que, dentro da linha indefinida do tempo, fiz pouco por mim, vivi pouco. Recordei que lá atrás, no início do ano, por volta de março, época de traçar projetos, podia ter feito melhores planos.

Também, uma conclusão é que me desperdicei sendo briguenta. Gastei meu tempo com reclamações e briguinhas bobas, sem sentido, fúteis, insignificantes: brigas com amigos, discussões tolas sugando minha energia, energia essa que poderia ter usado para construção de boas amizades, para trabalhos proveitosos.

Briguei demais, com todo mundo, com taxistas, no supermercado, na padaria, com vizinhos, briguei, briguei, briguei! Para quê? Brigas bobas, para nada! Uma maneira de botar para fora a raiva de me sentir fraca, em vez de trabalhar para construir, criar bons e satisfatórios relacionamentos, ser feliz, ajudar outros a serem felizes.

Por que não fui mais amena?

Por que não fui mais condescendente com meus amigos?

Por que tive que dormir tão cedo todas as noites?

Por que não dei mais carinho para as minhas amigas, os meus amigos?

Por que não dei mais atenção aos meus vizinhos também solitários, que moram sozinhos, e que talvez estivessem sentindo dores como as minhas?

Sofri pelas insônias, em vez de aproveitar o silêncio das longas noites para enxergar soluções para minha Vida. Algumas vezes, me entupi de calmantes tentando não sentir a solidão, que dói mais nas madrugadas.

O ano está terminando, já passou, muitas vezes eu não vi. Muitas vezes não vi a beleza do sol nas manhãs, da lua, a beleza da natureza.

Não prestei atenção às pessoas. Não me vi, não me dei importância. Parece que não vivi muito neste ano, apenas existi perdida no planeta, distraída em horas de desânimo, em vez de inventar um caminho.

Agora, me deprimo por ter perdido o meu tempo, não ter amado as pessoas, não ter tido projetos, não ter tido a coragem de enfrentar os dias e as noites do ano que está terminando, não ter vivido mais emoções. Fica uma secura interior quando não se vive intensamente.

Mas, enfim, tudo foi, foi, foi ...

Agora é agora, não se pode voltar o trem das horas, o tempo segue sempre para a frente.

Mas tenho um presente: o ANO QUE VAI COMEÇAR, O NOVO ANO.

Tomara que desta vez eu não desperdice.